PEREGRINAÇÃO: NOS PASSOS DE EDITH STEIN

PEREGRINAÇÃO: NOS PASSOS DE EDITH STEIN

domingo, 8 de novembro de 2009

A SOCIOLINGUÍSTICA NA FILOSOFIA DE EDITH STEIN

KÁTIA GARDÊNIA DA SILVA COELHO

ORIENTADORA: PROFª Dra URSULA ANNE MATTIAS


Introdução

A linguagem sempre mereceu atenção por parte dos filósofos. Basta citar o exemplo de Platão ao referir-se sobre a língua como instrumento que se ajusta ao objeto. A filósofa Edith Stein (1891-1942) também não ficou indiferente a essa questão muito embora não tenha se manifestado dedicadamente em uma obra específica, entretanto, encontramos vestígios na obra Ser finito y Ser Eterno sobre a possibilidade da sociolingüística na filosofia steiniana. No entanto, ousamos dizer ela perpassa com o olhar fenomenológico uma análise sobre a linguagem e seus variantes. Por isso é possível apontar essa preocupação em sua filosofia e sugerir suas possíveis contribuições.Para isso Edith Stein, o principal ponto é a análise fenomenológica das significações das palavras em uma multiplicidade de intenções sensíveis para daí extrair sua essência.Sabemos que a filósofa se fundamenta na fenomenologia de Edmund Husserl ao refletir as formas do conhecimento enquanto caráter da intencionalidade de um dado objeto e sua mediação do sentido que se aplica a palavra, ou seja, como posso refletir o significado ou o sentido das categorias ao que concerne uma conexão interna entre elas que nos seja compreensível a estrutura essencial enquanto tal.Nesse sentido, poderíamos considerar que a perspectiva de Edith Stein tem como pretensão, na medida do verossímil, enveredar no interior do campo do ser, na “vida-do-eu” e sua relação sobre as essências da experiência para uma compreensão da linguagem que possa revelar algo sobre o ser.Portanto, Edith Stein atribui centralidade na análise fenomenológica das variações lingüísticas como possibilidade de revelar algo sobre o sentido do ser ao captarmos as essências, que representam um leque de conhecimento dos nomes dos diferentes conteúdos de experiências.Entretanto, é possível falarmos da linguagem como forma de compreensão entre a filosofia do “nosso tempo”(sec.xx) e a filosofia da Idade Média em especial Tomás de Aquino em que poderiam unir-se em uma mesma corrente da filosofia perene.[1] Nessa perspectiva, a reflexão que pretendemos desenvolver nasce da pergunta sobre o problema do ser, visto que, perpassa tanto o pensar dos “antigos mestres, e não somente com eles, mas também com os que a sua maneira, voltam a ocupar-se do tema na época atual.”[2]

Queremos especificar desde já que, quando nos referimos à questão da sociolingüística na filosofia de Edith Stein, temos em mente algo de especificamente de procurar descobrir o sentido do ser, onde devemos nos colocar a problemática da sua essência. Nesse sentido a filósofa não deixa de lado o olhar fenomenológico sobre o ser humano na tentativa de compreender a essencialidade humana como um todo:através das diversas maneiras que a consciência intui os fenômenos ;e sendo assim, revela-se uma investigação entorno das múltiplas formas do refletir humano com o desejo de abarcar o sentido do ser.Por exemplo, a linguagem, o relacionar-se com o os outros, com o mundo e com Deus.Portanto, pretendemos evidenciar os vestígios sociolingüísticos no pensamento steiniano em específico na obra Ser finito y Ser Eterno.

Começaremos sob o aspecto da linguagem a cerca das dificuldades da expressão lingüística como proposta de uma abertura ao diálogo entre a filosofia da Idade Média e a nova filosofia do século xx, mas tocamos aqui na espinha dorsal da questão: como falar de um diálogo comum em meio a diferentes linguagens, e ao mesmo tempo de uma corrente de pensamento da filosofia perene? Primeiramente, precisamos encontrar a língua em que possam compreender-se mutuamente, entretanto “vivemos realmente em meio de uma confusão babilônica de línguas.” [3]

É quase impossível tratarmos de um termo em que haja uma compreensão entre si, diante do distanciamento dos términos técnicos que Santo Tomás falava com sua própria linguagem para o entendimento do filósofo atual, porém temos a questão do ser que reaparece no interior da filosofia do nosso tempo, visto que a fenomenologia de Husserl e Scheler abordam o problema do ser, depois, a filosofia da existência de Heidegger onde nos levam ao diálogo entre tais pensadores. Pois, a análise aqui proposta é justamente captar aquilo que contribua para uma maior compreensão sobre o sentido do ser.

Este processo se justifica porque a filósofa tem como pretensão de investigar e aproximar, a filosofia de Tomás e a filosofia do século xx ao enveredar na questão do ser para analisar o sentido e a possibilidade de uma filosofia cristã.Portanto, sabemos que a linguagem faz parte do ser humana e desempenha papel importante para a cultura de um povo.”As línguas se desenvolvem segundo o espírito dos povos, porque são a condensação e a expressão de sua vida; a multiplicidade dos povos e suas qualidades devem refletir-se nelas.”[4] Neste contexto, Edith Stein cita o exemplo dos gregos que criaram sua própria forma de linguagem: a filosofia sendo a marca do espírito desse povo e que ao pensarmos em filosofia temos que nos reportarmos aos gregos, dessa forma para adentrar a reflexão sobre o ser devemos buscar entrar em diálogo com os antigos mestres que está por trás destas palavras um leque de conhecimento.Com isso a autora pretende mostrar que a filosofia é um corpo de pensamento tendo por interesse a verdade total, então, se o cristianismo apresenta-se no contexto histórico, do ponto de vista da filosofia podemos analisar os dados das revelação sob o olhar da razão e extrair o estado cristão da filosofia, já que a fé representa uma abertura de horizonte como auxílio a compreensão do sentido do ser.

Desta maneira, a sociolingüística na filosofia steiniana, tem como caráter de mostrar uma investigação em torno das múltiplas formas do refletir humano através de um entendimento do que seja uma filosofia cristã tanto para os crentes quanto os não crentes, enquanto possibilidade de abertura para o absoluto, para si e para o outro.

Com efeito, podemos dizer a linguagem é parte do ser humano, ou seja, cada um de nós já nasce com ela, basta apenas vivenciá-la no meio para desenvolvê-la. Para isso, Edith Stein traz consigo uma abordagem de interpretação da linguagem não somente sobre a visão da filosofia cristã, mas deve-se incluir um olhar fenomenológico sob a linguagem para uma compreensão da estrutura essencial enquanto tal. Por exemplo: ao falar de essencialidade nos leva a compreender o sentido último nas palavras, ou seja, o que no centro de toda compreensibilidade, é justamente o que revela a compreensão e o entendimento da língua.[5] Assim Edith Stein elabora uma filosofia como um corpo de conhecimento em que ela não faz um recorte do mundo, mas visa o todo, ao investigar o ser humano em seus vários aspectos de conhecimento desvelando uma maior compreensão da realidade.

Por essa razão há de se tomar outro ponto de partida do pensamento steiniano sobre a sociolingüística ao permitir caminhar na busca do conhecimento da estrutura do ser humano capaz de mergulhar no núcleo do indivíduo, aquilo que é de mais profundo da alma no horizonte e abertura com o transcendente, com o outro(empatia) para um reconhecimento da alteridade do outro que envolve as diversas formas do expressar humano tendo como desfecho no atuar consciente na história, para uma maior participação na sociedade.



[1] .EDITH STEIN, Ser finito y Ser Eterno,ensayo de uma ascensión al sentido del ser, 1994,24.

[2].”Volver a pensar activamente junto com los antigos maestros, y no solo com ellos, sino también com los que, a su maneira, vuelven a ocuparse del tema em época actual.”Ser finito y Ser terno,29.

[3].”Vivimos realmente em médio de uma confusión babilônica de lenguas.”Ser finito y Ser Eterno,25.

[4].”Las lenguas se desarrollan según el espíritu de los pueblos, porquer son la condesación y la expresión de su vida; la multiplicidad de lo pueblos y su cualidades deben reflejarse em ellas.”Ser finito y Ser Eterno,25.

[5].Ser finito y Ser Eterno,57.


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