PEREGRINAÇÃO: NOS PASSOS DE EDITH STEIN

PEREGRINAÇÃO: NOS PASSOS DE EDITH STEIN

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A TRÍPLICE ESTRUTURA DO SER HUMANO: UMA CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA

Carlos Daniel Nascimento


O homem foi o centro da pesquisa de Edith Stein, constado na seguinte citação: “fui me encaminhando para algo que se encarnava pessoalmente em mim e que ocuparia todos os meus estudos futuros: a constituição da pessoa humana”. (STEIN apud GARCIA, 1987, p.55). Edith se sentia entusiasmada nessa busca através dos questionamentos: o que constitui o ser humano? Onde se firma a dignidade de sua pessoa?

O ser humano busca sua realização numa estrutura que vive harmonicamente. Essas estruturas que fazem parte do homem são, segundo Edith Stein, o espírito, a alma e o corpo. Edith tem a preocupação em estudar a pessoa humana em seus aspectos mais profundos, mas reconhece a complexidade desse estudo, pois cada homem é único, tendo, cada um, sua particularidade irrepetível.

É muito natural que tomemos nosso ponto de partida naquilo que nos é mais próximo, ou seja, a natureza humana. E ao tratar da natureza do homem, pensamos na essência do homem enquanto tal, compreendendo o fato de ser ele pessoa. (STEIN, apud GARCIA, 1987, p. 57).

Somos então chamados a observar as características particulares do ser pessoa das pessoas criadas e finitas. E a partir deste ponto de vista considerado tão objetivo, temos por base a natureza humana, porque toda a criação está compreendida no nexo entre o espírito e a matéria. Falando da natureza do homem, podemos pensar em sua essência enquanto tal, que Edith Stein compreende o fato de ele ser pessoa. Portanto, a essência do homem é ser pessoa. A essência é aquilo que faz com que o homem seja homem, e não outra coisa.

2.1 O homem enquanto espírito

O homem tem um atributo particular que o faz ser pessoa, é o fato de ele ser espiritual, ou seja, possui algo interno, um centro, a partir do qual se constitui, tendo posse de si mesmo. Nessa posse de si, o homem tem a capacidade de entrar e sair de si mesmo. Esse entrar e sair de si são características necessárias para a constituição da pessoa. Tendo sua vida espiritual, o homem pode sair de si mesmo, podendo entrar no mundo que se mostra a ele (fenomenologia) sem perder nada de si mesmo. Dessa forma, o homem lança para fora de si sua essência, e se expressa também espiritualmente, atuando pessoal e espiritualmente.

O fato de o homem ser espiritual permite que ele se conheça e tenha posse de si, podendo dominar os seus atos. “Mas o espírito humano está condicionado pelo que lhe é superior e inferior: está imerso num produto material que é a alma e forma em vista de sua forma corporal.” (STEIN, 1996, p.380). O homem traz consigo e abarca seu corpo e sua alma, mas ao mesmo tempo deixa-se levar por eles.

A vida espiritual do homem é como uma chama que se acende saindo de um lugar tenebroso. Essa chama se alimenta de uma matéria que não brilha; brilha, porém não é inteiramente luz: é o espírito humano (que é visível para si mesmo), porém não é totalmente transparente.

O espírito tem o conhecimento através da luz interior: ele tem o conhecimento de sua vida no momento presente, e em grande parte do seu passado. O passado é capaz de conter em si falhas; o futuro, que não é seguro, só pode ser previsto de forma parcial, só pode ser visto com probabilidades, uma vez que é incerto, indeterminado. Se nos detivermos à consciência, o futuro é absolutamente inacessível. Sua procedência e seu fim são inteiramente inacessíveis.

E a vida imediata e certa do momento presente é o cumprimento fugitivo de um instante que cai rapidamente e pronto se nos escapa por completo. Toda a vida consciente não abarca meu ser; se parece com uma superfície iluminada por cima de uma profundidade sombria, que se manifesta através desta superfície. (STEIN, 1996, p. 380).

A palavra espírito passou a ser usada porque antes a palavra alma era utilizada para denominar tudo aquilo que não era corporal. Normalmente se fala corpo e alma. Husserl e seus discípulos, entre eles está Edith Stein, passaram a analisar a alma em duas partes: a primeira se refere aos impulsos psíquicos. Os atos psíquicos não são desejados por nós, ou seja, não temos a intenção de realizá-los, uma vez que esses impulsos não são dominados por nós. Além do mais, nós não somos a procedência deles, e também não os provocamos, porém os achamos. Se ouvirmos um barulho muito alto, certamente teremos medo. O medo não é desejado por nós, mas é uma reação que ocorre. Essa é a parte psíquica. A segunda se refere aos atos da compreensão. Essa parte que reflete, avalia, controla e decide é chamada de espírito.

No eu se apresenta também uma outra série de fenômenos que são caracterizados pelo fato de se dirigirem intencionalmente para algo: eles são os ‘atos’ ou vivências intencionais, pelas quais começa a vida espiritual. Também na vida psíquica é possível descobrir uma forma básica de intencionalidade, mas ela é apenas esboçada. Se analisarmos alguns atos que realizamos diariamente, ficamos cientes do significado da intencionalidade. E. Stein oferece, com a pontualidade e a clareza que a distingue, algumas orientações muito precisas para identificar tais atos. Assim, ensina-nos a dirigir o nosso olhar para a nossa interioridade, ou seja, para a descoberta dos atos nela presentes. Tal ato, por sua vez, é muito importante, porque nos permite entender todos os outros atos e inclusive a nós mesmos: é precisamente o ato de reflexão. (BELLO, 2000, p. 148-149).

Essa análise fenomenológica que Edith Stein faz dos atos do ser – humano é necessária para que se chegue a uma melhor compreensão da estrutura do ser - humano. Por meio dessa apreensão fenomenológica, Edith conseguiu chegar às dimensões mais apuradas do ser – humano: corpo-psique-espírito. Partindo da análise da conduta humana, deduzimos que a alma existe, e é percebida em dois momentos: a dimensão psíquica e a dimensão espiritual. Sem dúvidas, todas as dimensões são conectadas com exatidão. O espírito não poderia viver sozinho, pois ele reside na base psíquica e corpórea. Existem casos onde corpos podem viver sozinhos sem a intervenção da alma e do espírito, no entanto o ser humano possui, em potência, essas três características.

2.2 O homem enquanto alma

O homem possui também uma alma, e esta é um vínculo que une o corpo e o espírito. Sendo assim, ela pode participar tanto da vida sensível quanto da vida espiritual. A alma é essa estrutura que fica entre o espírito e o corpo. “Possuir alma significa estar dotado de um centro interior onde ecoa tudo o que vem de fora e de onde procede tudo o que se verifica na conduta corpórea” (STEIN apud FERREIRA, 2001, p.149).

A alma, segundo a concepção de Santo Tomás, que se baseia em Aristóteles, é a forma essencial de todo ser vivente, e se diferencia quanto aos níveis de sua formação. A alma pode produzir uma matéria viva ou uma vida interior que pode ser sensitiva ou espiritual.

A alma pode ser classificada por meio de uma hierarquia feita a partir de suas ações. A alma das plantas se diferencia da dos animais e da dos homens. A alma da planta é uma alma vital, pois a planta é uma matéria orgânica viva. A alma do animal é uma alma sensitiva, uma vez que o animal se utiliza de seus sentidos para conhecer aquilo que se manifesta a ele por meio de sensações. A alma do homem é considerada racional por causa de sua capacidade de refletir. Edith considera essa hierarquia quanto ao desenvolvimento de suas ações. Os seres de graus superiores, como o homem, realizam, além da sua particularidade, as características dos seres inferiores, como os animais e as plantas. Portanto, o homem agrega ao que lhe é particular a atividade das plantas e dos animais; e o animal agrega a sua atividade particular a atividade das plantas.

Podemos evidenciar, então, a forma, explicitando seu sentido. Enquanto observamos o produto material inanimado, ou seja, sem alma, vemos que isso é uma particularidade exclusiva deste ser material, que se mostra através de formas. A distinção específica entre as formas vivas e as inanimadas é: as formas vivas são superiores por estarem acima da matéria, podendo unir uma diversidade de produtos materiais existentes, organizando-os.

Temos afirmado (com Hedwig Conrad-Martius) que a particularidade da alma consiste em ser o próprio núcleo do ser vivo e a fonte escondida de onde este ser vivo toma seu ser para aparecer como forma visível. O produto material inanimado chega a ser um real que aparece por si mesmo e é autônomo, formado de uma maneira especial e uniforme, mas não a partir de seu próprio núcleo de algo interior. (STEIN, 1996, p. 384).

A alma, sendo o núcleo do ser dos materiais vivos leva em si a potência de autoformação. Cada alma particularmente é um mundo interior selado, não podendo separar-se do corpo nem do mundo real em que vive para viver de maneira autônoma. Porém não se pode dizer que no animal a alma só serve para servir o corpo, estando submissa a esse; porém deve haver um equilíbrio entre o exterior e o interior. Na planta, há um prevalecimento do externo; no homem, a distinção entre alma e corpo fica mais evidente, pois cada uma das partes possui seu significado próprio.

A divisão tradicional tripartida: corpo- alma- espírito não deve entender-se como se a alma do homem fosse um terceiro reino entre outros dos que existem independentemente dela. Nela, a espiritualidade e a vida sensível se coincidem e se enlaçam. (STEIN, 1996, p.386).

“A alma é todo o espaço médio do todo formado pelo corpo, a alma e o espírito” (STEIN, 1996, p.386). A alma, enquanto sensível, mora em todo o corpo, formando-o e mantendo-o. A alma, enquanto espiritual, transcende além de si mesma e olha para um mundo que ultrapassa o seu próprio eu (um mundo de coisas e pessoas). Comunica-se com esse mundo através de sua inteligência. Eis a concepção de alma que Edith Stein concebe: Aparece como a ação combinada de forças diferentes: a força sensível, que se apresenta a respeito da apreensão dos dados sensíveis e nos impulsos sensíveis, e a força espiritual, que é uma força totalmente nova e diferente da primeira e se manifesta nas atividades e capacidades espirituais. Na alma se estabelece tudo o que vem dos sentidos e do espírito. Na alma se observa a explicação interior com seus elementos.

A pessoa, sendo livre, é dona de seus atos, determinando, assim, sua vida. Por exemplo, a decisão de ir ou não para um passeio é feita com mais superficialidade do que a decisão que alguém toma para a escolha de uma profissão. Essa decisão advém da alma que está presente na vida do eu.

A alma assume uma dupla função: quanto a sua vida espiritual, ela se eleva acima de si mesma e quanto ao corpo ela é semelhante aos animais. Essa diferenciação pode ser entendida na diferença que há entre a alma sensitiva e a alma espiritual. A alma sensitiva possui uma semelhança com a dos animais por causa dos instintos.

2.3 O homem enquanto corpo

O corpo do homem não é constituído somente de massa corpórea, mas ele possui uma alma, ou seja, ele possui um corpo animado. O homem reside em seu corpo como num “domicílio inato”, tendo consciência do que se passa e como se passa nele. O que é corporal não pode ser observado como somente corporal. O que vai diferenciar uma massa corpórea de um corpo animado é o fato de um corpo animado possuir uma alma. Onde há uma alma, há um corpo animado e onde há um corpo animado, também existe uma alma.

Quanto ao corpo, o homem não possui plena liberdade de movimento em relação a ele, pois não pode observá-lo de todos os lados, de todos os ângulos, uma vez que não pode sair de si para observar-se. Porém, não se pode se prender à observação externa, pois o homem pode perceber-se de dentro. Esse perceber-se de dentro é possível porque como já foi dito o corpo não é só uma massa corpórea: é constituído de uma alma, que o faz corpo animado.

As sensações físicas fazem parte da vida do homem assim como os seus pensamentos, seus sentimentos. Por exemplo: uma dor de cabeça, uma dor de dente, uma sensação de frio; tudo isso toca o corpo do homem. Aquilo que tem contato com o corpo do homem tem contato com este também, pois o homem está presente em todas as partes do seu corpo.

Partindo desse pressuposto, entendemos que o processo do corpo humano pode ser inserido na vida pessoal. Cada movimento de minha cabeça, feitos com certa intencionalidade, com a livre disposição da minha vontade, constituem atos pessoais. O corpo, tomado como o instrumento das minhas ações, pertence à unidade de minha pessoa. O “eu” do homem não pode ser visto somente como um eu puro, nem unicamente como um eu espiritual, mas também como um eu corporal.

Partindo desses atos e através deles, chegamos à conclusão de que existe um corpo em relação a um mundo externo. Conhecemos as coisas físicas através da corporeidade. O homem busca o sentido das coisas que se apresentam a ele, como já vimos na fenomenologia (aquilo que se mostra). Essa busca se dá através da análise do sujeito humano. Por exemplo, um copo d’água. Enquanto existente esse copo está fora, no exterior; porém enquanto visto e tocado pelo homem, ele está no interior, pois ao vê-lo ou tocá-lo, ele se torna seu. Há uma experiência pessoal, por isso é considerado dentro de si.

Para Husserl, o fundador da fenomenologia, a percepção é uma porta para se adentrar o ser - humano, ou seja, para compreender de que e como ele é feito. Este destaca que nós estamos em contato com o mundo físico, que é percebido por nós. A percepção leva-nos a “dar-nos conta” das coisas. Esse “dar conta” é a consciência. Por exemplo, ver e tocar são atos conscientes, vivenciados. Ser consciente é olhar para uma coisa e dar conta de que a está vendo, ou tocar uma coisa e ter consciência de que a está tocando.

A consciência tem dois níveis. O primeiro nível da consciência se refere aos atos perceptivos, eles acontecem quando vemos ou tocamos as coisas e nos damos conta delas. O segundo nível se refere aos atos reflexivos; estes são atos exclusivos da pessoa humana, pois os animais não passam do primeiro nível. Quando um cão e um gato se vêem e se tocam eles só têm o primeiro nível de consciência.

Vejamos como exemplo, o desenvolvimento infantil. Uma criança que avança passo a passo apreende a sua corporeidade através dos contatos físicos, percebendo seus limites. As pessoas adultas não refletem a todo o momento sobre os limites corporais, mas elas têm consciência deles.

São diversos os motivos pelos quais nosso corpo atua: o impulso, os instintos, as reações. Nosso corpo tem a capacidade de senti-los, registrá-los e reagi-los. Por exemplo, quando ouvimos um barulho não muito forte, podemos sentir apenas uma reação de incômodo, contudo, sendo muito forte, podemos sentir medo.

Nesse ponto, identificamos outros atos que não são de caráter psíquico, como o impulso de beber, nem de caráter corpóreo porque o corpo nos manda a mensagem de beber, mas não pegamos o copo. Portanto, podemos controlar o nosso corpo e a nossa psique. Estamos registrando o ato de controle, mas este não é de ordem psíquica nem de ordem corpórea, e nos faz entrar numa outra esfera a que os fenomenólogos chamam de esfera do espírito. (BELLO, 2006, p. 39).

2.4 O conceito de pessoa

Através de um estudo de Edith Stein, pode-se perceber que em todas as suas obras, o ponto fundamental de todos os seus interesses é a pessoa humana. A sua originalidade em conceituá-la é notável.

Edith Stein percebe que somente o ser humano pode pronunciar “eu”; somente o ser humano pode perceber-se; somente este pode captar a alma do outro que o cerca. “Ser pessoa quer dizer ser livre e espiritual. Que o homem é pessoa: isto é o que o distingue de todos os seres da natureza” (STEIN, 1998, p.141).

Somente seres que são particulares e que possuem uma natureza dotada de razão podem ser chamados de “pessoa”. “O termo pessoa indica o que é mais perfeito em toda a natureza, a saber, uma coisa que subsiste em si mesma e uma natureza dotada de razão [...]” (AQUINO apud STEIN, 1996, p. 373).

Uma criatura, para que seja considerada como uma criatura dotada de razão, deverá ser capaz de compreender a norma de seu próprio ser e colocar-se dócil a ela através de seu comportamento. Deve-se, portanto, utilizar o entendimento, a compreensão e a liberdade, que é o dom de informar por si mesmo o comportamento propriamente dito. Isso pode ser constado na seguinte citação:

Mas se chama dotada de razão a uma criatura que pode compreender a norma de seu ser próprio e submeter-se a ela por seu comportamento. Convém agregar a isso o entendimento o dom de compreensão e a liberdade que é o dom de informar por si mesmo o comportamento propriamente dito. Se o feito de possuir a razão pertence ao ser pessoal, então a pessoa enquanto tal possui também necessariamente o entendimento e a liberdade. (STEIN, 1996, p.378).

Outra característica que Edith encontrou na pessoa foi o fato de ela ser livre e proprietária de seus atos, conforme consta na citação:

É livre porque é dono de seus atos, porque determina por si mesmo sua vida inferior a forma de atos livres. Os atos livres são o primeiro campo do domínio da pessoa. Porém toda a natureza humana que lhe é própria lhe pertence, posto que ela influa por sua ação sobre a informação do corpo e da alma. (STEIN, 1996, p.391).

A pessoa pode, por motivo de sua liberdade, usar um caminho de busca por si mesmo. Nesse caminho, descendo às profundas verdades, ele poderá preferir ficar na superficialidade, ou se quiser, na profundidade. Logo, se a alma não atinge seu pleno desenvolvimento, é da responsabilidade da pessoa.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Papa Bento XVI fala sobre Edith Stein‏

L'OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

Bento XVI recordou o martírio de Edith Stein e de Maximiliano Kolbe nos lagers nazistas

Os santos mostram o verdadeiro

rosto de Deus e do homem

No domingo, 9 de Agosto, recitando a

oração mariana do Angelus com os fiéis

em Castel Gandolfo, o Papa falou do

martírio de Edith Stein e de

Maximiliano Kolbe, e recordou que

quando o homem se esquece de Deus e se

substitui a Ele, abre-se na terra o

inferno. Foi o que aconteceu nos lagers

nazistas e em todos os campos de

extermínio.

Queridos irmãos e irmãs!

Como no domingo passado, também

hoje – no contexto do Ano sacerdotal

que estamos a celebrar – nos detemos

a meditar sobre alguns Santos e Santas

que a liturgia recorda nestes dias. Excepto

a virgem Clara de Assis, fervorosa

de amor divino na oblação quotidiana

da oração e da vida comum, os

outros são mártires, dois dos quais

mortos no lager de Auschwitz: santa

Teresa Benedita da Cruz – Edith

Stein, que, tendo nascido na fé judaica

e conquistada por Cristo em idade

adulta, se tornou monja carmelita e selou

a sua existência com o martírio; e

São Maximiliano Kolbe, filho da Polónia

e de São Francisco de Assis, grande

apóstolo de Maria Imaculada. Encontraremos

depois outras figuras maravilhosas

de mártires da Igreja de

Roma, como São Ponciano Papa, Santo

Hipólito sacerdote e São Lourenço

diácono. Que excelentes modelos de

santidade nos propõe a Igreja! Estes

santos são testemunhas daquela caridade

que ama «até ao fim», e não tem

em consideração o mal recebido, mas

combate-o com o bem (cf. 1 Cor 13, 4-

8). Deles podemos aprender, sobretudo

nós, sacerdotes, o heroísmo evangélico

que nos estimula, sem nada temer, a

dar a vida pela salvação das almas. O

amor vence a morte!

Todos os santos, mas sobretudo os

mártires, são testemunhas de Deus,

que é Amor: Deus caritas est. Os lagers

nazistas, como qualquer campo de extermínio,

podem ser considerados símbolos

extremos do mal, do inferno que

se abre sobre a terra quando o homem

esquece Deus e se substitui a Ele, usurpando-

lhe o direito de decidir o que é

bem e o que é mal, de dar a vida e a

morte. Mas infelizmente este triste fenómeno

não se limita aos lagers. Eles

são antes a ponta culminante de uma

realidade ampla e difundida, muitas

vezes com confins fugazes. Os santos,

que recordei brevemente, fazem-nos

reflectir sobre as divergências profundas

que existem entre o humanismo

ateu e o humanismo cristão; uma antítese

que atravessa toda a história, mas

que no final do segundo milénio, com

o niilismo contemporâneo, chegou a

um ponto crucial, como grandes letrados

e pensadores compreenderam, e

como os acontecimentos demonstraram

amplamente. Por um lado, há filosofias

e ideologias, mas há também cada vez

mais formas de pensar e de agir, que

exaltam a liberdade como único princípio

do homem, em alternativa a

Deus, e deste modo transformam o homem

num deus, mas trata-se de um

deus errado, que faz da arbitrariedade

o próprio sistema de comportamento.

Por outro lado, temos precisamente os

santos, que, praticando o Evangelho

da caridade, dizem o motivo da sua

esperança; eles mostram o verdadeiro

rosto de Deus, que é Amor e, ao mesmo

tempo, o rosto autêntico do homem,

criado à imagem e semelhança

divina.

Queridos irmãos e irmãs, peçamos à

Virgem Maria, para que nos ajude a

todos – em primeiro lugar aos sacerdotes

– a serem santos como estas heróicas

testemunhas da fé e da dedicação

de si até ao martírio. Este é o único

modo para oferecer às realidades humanas

e espirituais, que a crise profunda

do mundo contemporâneo suscita,

uma resposta credível e completa: a da

caridade na verdade.

(Este material nos foi enviado por J. R. Brandão a quem queremos agradecer).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Entrevista com Professora Doutora Irmã Jacinta Turolo Garcia


Professora trata temas relacionados a fenomenologia e Edith Stein.
15/03/2007 - 16:00 Repórter : Paulo Arantes




A professora doutora Irmã Jacinta Turolo Garcia, ASCJ da universidade Sagrado Coração – Bauru/SP que cedeu para o Jornal On-Line UCDB uma breve entrevista:


JORNAL ON-LINE UCDB - Hoje, qual a importância da fenomenologia para a formação aca
dêmica e profissional?

IRMÃ JACINTA - Ela é muito importante no que se refere à pesquisa qualitativa, a fundamentação e a busca. Toda Filosofia é interessante e importante, mas a fenomenologia tem uma característica muito especial para área das ciências humanas, para a formação da pessoa, para os seus enfoques no que são relacionados àquilo que é a essência do ser humano. E ela é também muito aberta às outras filosofias e no caso de uma universidade católica como a UCDB ela dá uma grande abertura a tudo aquilo que a filosofia clássica tem trazido também em relação ao ponto.

JORNAL ON-LINE UCDB - O que é ser um fenomenólogo?
IRMÃ JACINTA - Para Edmund Husserl que é o fundador da fenomenologia, o movimento é uma reflexão sobre o sentido das coisas e ser fenomenólogo é ser alguém que busca conhecer o sentido das coisas, o porquê delas existirem, procurando trabalhar tudo isso em uma dimensão cada vez maior, sabendo que a Filosofia é uma busca contínua.


JORNAL ON-LINE UCDB - Aponte algumas contribuições de Edith Stein para a nossa época.
IRMÃ JACINTA - A grande contribuição de Edith Stein foi de mostrar a busca da verdade. Ela é um modelo, para os universitários, demonstrando isso na sua busca como aluna, na sua busca do aprendizado contínuo. Mas ela principalmente procura aquilo que é grande, bonito, forte. Edith Stein pode ser um modelo em tudo para nós como na sua formação como professora, filósofa, educadora, conferencista, de religiosa e santidade e muitos outros. Para os que estão despertando esse desejo de se aprofundar nesse assunto, eu creio que Edith Stein é um grande começo para se entender a fenomenologia.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pesquisadores steinianos no Paraná

  • Ir. Hélio Fernando da Imaculada,Mic
 contato:helio_scs@yahoo.com.br

  • Liliam Vitória Busatto (Maringá). Contato: liliamvitoria@gmail.com

domingo, 9 de agosto de 2009

09 DE AGOSTO – SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ, VIRGEM E MÁRTIR - Ofício das Leituras


Edith Stein nasceu em Breslávia, no dia 12 de outubro de 1891, de uma família hebréia. Apaixonada pesquisadora da verdade, através de aprofundados estudos de filosofia, encontrou-a mediante a leitura da autobiragrafia de sana Teresa de Jesus. Em 1922, recebeu o batismo na Igreja católica e, em 1933, entrou para o Carmelo de Colônia. Morreu mártir pela fé cristão aos 9 de agosto de 1972, nos fornos crematórios de Auschwitz, durante a perseguição nazista, oferecendo seu holocausto pelo povo de Israel.
Mulher de inteligência e cultura singulares, deixou muitos escritos de alta doutrina e de profunda espiritualidade. Foi beatificada por João Paulo II em Colônia, no dia 1º de maio de 1987 e canonizada em Roma aos 11 de outubro de 1998.

OFÍCIO DAS LEITURAS – Comum dos Mártires

HINO (para uma virgem mártir)

Ó Cristo, flor dos vales,
de todo bem origem,
com palmas de martírio
ornaste vossa virgem.

Prudente, forte, sábia,
professa a fé em vós
por quem aceita, impávida,
a pena mais atroz.

O príncipe do mundo
por vós, Senhor, venceu.
Vencendo o bom combate,
ganhou os bens do céu.

Bondoso Redentor,
por sua intercessão,
uni-nos, de alma pura,
à virgem, como irmãos.

Jesus, da Virgem Filho,
louvor a vós convém,
ao Pai e ao Santo Espírito,
agora e sempre. Amém.

SALMODIA

Salmo 2

- Por que os povos agitads se revoltam?
por que tramam as nações projetos vãos?
- Por que os reis de toda a terra se reúnem,
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?

- “Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles,
“e lançar longe de nós o seu domínio!”
- Ri-se deles o que mora lá nos céus;
zomba deles o Senhor onipotente.
- Ele, então, em sua ira os ameaça,
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:

- “Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei,
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!”
- O decreto do Senhor promulgarei,
foi assim que me falou o Senhor Deus:
“Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!

- Podes pedir-me, e em resposta eu te darei
por tua herança os povos todos e as nações,
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
- Com cetro férreo haverás de dominá-los,
e quebrá-los como um vaso de argila!”

- E agora, poderosos, entendei;
soberanos, aprendei esta lição:
- Com temos servi a Deus, rendei-lhe glória
e prestai-lhe homenagem com respeito!

- Se o irritais, perecereis pelo caminho,
pois depressa se acende a sua ira!
- Felizes hão de ser todos aqueles
que põem sua esperança no Senhor!

Ant. Vós sereis odiados por meu nome;
Quem for fiel até o fim há de ser salvo.

Ant. 2. Os sofrimentos desta vida aqui na terra não se comparam com a glória que teremos.

Salmo 10 (11)

- No Senhor encontro abrigo;
como, então podeis dizer-me:
“Voa aos montes, passarinho!

- Eis os ímpios de arcos tensos,
pondo as flechas sobre as cordas,
- e alvejando em meio à noite
os de reto coração!

- Quando os próprios fundamentos
do universo se abalaram,
o que pode ainda o justo?”

- Deus está no templo santo,
e no céu tem o seu trono;
- volta os olhos para o mundo,
seu olhar penetra os homens.

- Examina o justo e o ímpio,
E detesta o que ama o mal.
- Sobre os maus fará chover
fogo, enxofre e vento ardente,
como parte de seu cálice.

- Porque justo é nosso Deus,
o Senhor ama a justiça.
- Quem tem reto coração
há de ver a sua face.

Ant. Os sofrimentos desta vida aqui na terra não se comparam com a glória que teremos.
Ant. 3. Deus provou os seus eleitos como o ouro no crisol, e aceitou seu sacrifício.

Salmo 16 (17)

- Ó Senhor, ouvi a minha justa causa,
escutai-me e atendei o meu clamor!
- Inclinai o vosso ouvido à minha prece,
pois não existe falsidade nos meus lábios!
- De vossa face é que me venho o julgamento,
pois vossos olhos sabem ver o que é justo.

- Provai meu coração durante a noite,
visitai-o, examinai-o pelo fogo,
mas em mim não achareis iniqüidade.
- Não cometi nenhum pecado por palavras,
como é costume acontecer em meio aos homens.

- Seguindo as palavras que dissestes,
andei sempre nos caminhos da Aliança.
- Os meus passos eu firmei na vossa estrada,
e por isso os meus pés não vacilaram.

- Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis,
inclinai o vosso ouvido e escutai-me!
- Mostrai-me vosso amor maravilhoso,
vós que salvais e libertais do inimigo
quem procura a proteção junto de vós.

- Protegei-me qual dos olhos a pupila
e guardai-me, à proteção de vossas asas,
- longe dos ímpios violentos que me oprimem,
dos inimigos furiosos que me cercam.

- A abundância lhes fechou o coração,
em sua boca há só palavras orgulhosas.
- Os seus passos me perseguem, já me cercam,
voltam seus olhos contra mim: vão derrubar-me,
- como um leão impaciente pela presa,
um leãozinho espreitando de emboscada.

- Levantai-vos, ó Senhor, contra o malvado,
com vossa espada abatei-o e libertai-me!
- Com vosso braço defendei-me desses homens,
que já encontram nesta vida a recompensa.

- Saciais com vossos bens o ventre deles,
e seus filhos também hão de saciar-se
e ainda as sobras deixarão aos descendentes.
- Mas eu verei, justificado, a vossa face
e ao despertar me saciará vossa presença.

Ant. Deus provou os seus eleitos como o ouro no crisol, e aceitou seu sacrifício.
V. Tribulação e sofrimento me assaltaram.
R. Minhas delícias são os vossos mandamentos.

Primeira Leitura

Da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (4,7- 5,8)

Nas tribulações manifesta-se a força de Cristo

Irmãos: Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós. Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia. postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda a parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos morais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos. De fato, nós os vivos, somos continuamente entregues à morte, por causa de Jesus, pra que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal. Assim, a morte age em nós, enquanto a vida age em vós.
Mas, sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: “Eu creio e, por isso, falei”, nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. E tudo isso é por causa de vós, para que a abundância da graça em um número maior de pessoas faça crescer a ação de graças para a glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia. Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece, porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que invisível é eterno.
De fato, sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá uma outra moradia no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna. Aliás, é por isso que nós gememos, suspirando por ser revestidos com a nossa habitação celeste; revestidos, digo, se, naturalmente, formos encontrados ainda vestidos e não despidos. Sim, nós que moramos na tenda do corpo estamos oprimidos e gememos, porque, na verdade, não queremos ser despojados, mas queremos ser revestidos, de modo que o que é moral, em nós, seja absorvido pela vida. E aquele que nos fez para esse fim é Deus, que nos deu o Espírito como penhor.
Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; pois caminhamos na fé e não na visão clara. Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor.

Responsório

R. Felizes quando a vós insultarem, perseguirem e, calúnias proferindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. * Alegrai-vos e exultai, pois a vossa recompensa no céu é muito grande.
V. Felizes o que são perseguidos por causa da justiça do Senhor, porque o reino dos céus há de ser deles. *Alegrai-vos.

Segunda Leitura

Dos Escritos Espirituais de santa Teresa Benedita da Cruz, virgem e mártir (Edith Stein: “Vita, Dottrina, Tesi inediti” Roma, PP. 127-130)

Ave Crux, spes única!

“Saudamo-te, Cruz santa, nossa única esperança!”, assim a Igreja nos faz dizer no tempo da paixão, dedicado à contemplação dos amargos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O mundo está em chamas: a luta entre Cristo e o anticristo encarniçou-se abertamente, por isso, se te decides por Cristo, pode te ser pedido também o sacrifício da vida.
Contempla o Senhor que pende do lenho diante de ti porque foi obediente até a morte de cruz. Ele veio ao mundo não para fazer a sua vontade, mas a do Pai. Se queres ser a esposa do Crucificado deves renunciar totalmente à tua vontade e não outra aspiração senão a de cumprir a vontade de Deus.
Á tua frente o Redentor pende da Cruz despojado e nu, porque escolheu a pobreza. Quem quer segui-lo deve renunciar a toda posse eterna.
Estás diante do Senhor que pende da Cruz com o coração despedaçado; ele derramou o sangue de seu Coração para conquistar o teu coração. Para poder segui-lo em santa castidade, o teu coração deve ser livre de toda aspiração terrena; Jesus Crucificado deve ser o objeto de todo o teu anseio, de todo o teu desejo, de todo o teu pensamento.
O mundo está em chamas: o incêndio poderia pegar também em nossa casa, mas, acima d todas as chamas, ergue-se a Cruz que não pode ser queimada. A Cruz é o caminho que conduz da terra ao céu. Quem a abraça com fé, amor, esperança é levado para o alto, até o seio da Trindade.
O mundo está em chamas: desejas extingui-las? Contempla a Cruz – do Coração aberto jorra o sangue do Redentor, sangue capaz de extinguir também as chamas do inferno. Através da fiel observância dos votos, torna o teu coração livre e aberto; então, poderão ser despejadas nele as ondas do amor divino; sim, a ponto de fazê-lo transbordar e torná-lo fecundo até os confins da terra.
Através do poder da Cruz, podes estar presente em todos os lugares da dor, em toda parte para onde te levar a tua compassiva caridade, aquela caridade que haures do Coração divino e que te torna capaz de espargir, por toda parte, o seu preciosíssimo sangue para aliviar, salvar, redimir.
Os olhos do Crucificado fixam-te a interrogar-te, a interpelar-te. Queres estreitar novamente, com toda seriedade, a aliança com ele? Qual será a tua resposta? “Senhor, aonde irei? Só tu tens palavras de vida”. Ave Cruz, spes única!

Responsório

R. Nós anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura;
* Para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
V. O desejo do meu coração e a minha oração sobem a Deus pela salvação deles.
* Para.

ORAÇÃO

Senhor Deus de nossos pais, fazei abundar em nós a sabedoria da cruz, com a qual, admiravelmente, enriquecestes santa Teresa Benedita, na hora do martírio. Concedei-nos, por sua intercessão, que constantemente vos procuremos, Suma Verdade, e guardemos fielmente, até à morte, a eterna aliança de amor, selada no sangue de vosso Filho, para a salvação de todos os homens. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.