Profa. Dra. Ângela Ales Bello Filósofa - Especialista em fenomenologia Universidade Lateranense Roma – Itália
Coordenação: Profa. Dra. Carmen Lucia Cardoso Profa. Titular Marina Massimi
Periodo: 28 de setembro a 02 de outubro de 2009
Horário: 9:00 às 12:00 14:00 às 17:30
Local: Anfiteatro André Jaquemin e Sala de Seminários 1
Instituição: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto — USP
O curso da Profa. Angela Ales Bello é credenciado junto a Pós graduação da Psicologia da FFCLRP ( Ribeirão Preto). Os interessados podem fazer suas inscrições com Denise, Ines ou Cesar: deniseas@ffclrp.usp.br
Há alguns dias nos chegou um email nos solicitando que o blog tivesse a possibilidade de ser lido em espanhol, por isso gostaria de agradecer ao Leonardo Brum que nos ajudou, com mais este novo serviço. (A tradução é eletrônica por isso nos isentamos de qualquer falha que possa surgir).
Hace unos días recibimos un correo electrónico para solicitar que el blog se podrá leer en español, así que me gustaría dar las gracias a Leonardo Brum que nos ayudaron, con este nuevo servicio. (La traducción es electrónico por lo que declinamos cualquier falla que pueda surgir).
A obra “A Ciência da Cruz” é o último escrito de Edith. Essa obra ficou inacabada, pois quando Edith estava escrevendo sua última parte, foi presa pelas tropas do nazismo. “Imolada pelos seus e no meio deles, ela o seria ao compartilhar a sorte de milhares de vítimas queimadas nos fornos crematórios do campo de concentração de Auschwitz.” (MIRIBEL, 2001, p. 121). Edith Stein, sendo uma mulher de garra, corajosa não hesitou em escrever para o papa Pio XII. Nesta carta, ela o aconselhou a escrever uma carta condenando o sistema ignominioso do nazismo. Sua carta é um forte sinal que poderá lembrar a humanidade de que o genocídio jamais deverá acontecer novamente. Essa obra é indispensável no estudo da pessoa humana, visto que é a obra mais madura de Edith. Certamente, todas as suas obras têm como centro a pessoa humana, mas é justamente nessa onde a fenomenóloga atinge o ápice do seu conceito de pessoa. Edith Stein, na obra “A Ciência da Cruz”, deseja entrar na doutrina de são João da Cruz, a fim de torná-la mais clara com o auxílio dos resultados das pesquisas modernas sobre a filosofia da pessoa e introduzir no seu vocabulário palavras como (eu, liberdade, pessoa), que são desconhecidas do santo doutor. A obra é dividida em três partes principais: A mensagem da Cruz; a doutrina da Cruz; A escola da Cruz. Onde a parte mais importante é a da doutrina da cruz, visto que Edith irá usar mais evidentemente a fenomenologia. Nesse sentido, Edith procura ajudar o ser - humano na busca pela plenitude do ser. Stein não se contenta em apenas comentar a obra do santo doutor, mas busca dar uma interpretação pessoal e modernizada das leis que regulam o ser e a vida espiritual.
Ao invés de limitar-se a comentar os textos do santo, ela desenvolve, ulteriormente, a doutrina dele sobre a Cruz, até atingir o núcleo da filosofia da pessoa. Na resenha das leis fundamentais que regem o ser espiritual, sua atenção se polariza, especialmente, nas questões concernentes à essência e ao destino da criatura humana: o eu, a pessoa e a liberdade[...] (STEIN apud GARCIA, 1987, p. 61).
Para Stein, os sentidos são os órgãos do corpo, uma vez que o nosso corpo se utiliza deles, contudo são também janelas da alma, visto que por meio deles a alma tem conhecimento do mundo exterior. Nota-se uma sensibilidade presente tanto no corpo quanto na alma. A alma possui impressões que nos permitem termos um conhecimento do mundo empírico. Também estão presentes as alegrias e os desejos presentes que são suscitados e impressos pelos sentidos. A atividade espiritual é indispensável na vida sensitiva, pois existe uma ligação intrínseca entre a alma sensível e a alma espiritual. Não devemos pensar que há dois planos sobrepostos, mas lembrarmos de que o homem é este ser que vive numa estrutura harmônica, ou seja, num todo, que é o espírito, a alma e o corpo. É bem verdade que o homem só é feliz quando encontra seu próprio ser, que está no íntimo de sua alma, no seu interior, no seu coração. E é justamente na segunda parte (a doutrina da Cruz), onde Edith trata da intimidade da alma, onde o eu vive a sua liberdade. Toda alma possui sua intimidade, cuja existência já tem vida, vida esta até então imperceptível ao próprio homem, até que se formem os pensamentos do seu coração.
O que aí é dito sobre o “eu, a liberdade e a pessoa” não provém dos escritos do Pai. Nestes, encontramos apenas alguns indícios. Ora, tratar desses assuntos não foi sua intenção, nem corresponde a seu modo de pensar. A elaboração de uma filosofia da pessoa, da qual há somente indícios em trechos indicados, constitui tarefa da moderna filosofia. (STEIN, 2004, p. 7).
Quando está no seu interior, a alma está à vontade, “em casa”, ou no seu repouso.
O homem é chamado a viver no seu íntimo, tomando nas mãos a direção de si mesmo, e na medida do possível, agindo a partir daí. Somente partindo deste ponto é possível um exato confronto com o mundo: somente partindo daí o homem pode encontrar, no mundo, o lugar que lhe compete. Ele, porém, não pode jamais explorar totalmente seu íntimo [...] (STEIN apud GARCIA, 1987, p.62).
É preciso que o homem encontre-se consigo mesmo e descubra seu valor, a sua dignidade de pessoa, de ser humano capaz, para que possa viver plenamente. O homem é chamado a viver no seu íntimo, tomando em mãos o governo de todo seu ser; somente partindo deste ponto, o homem pode encontrar, no mundo, o lugar a ele destinado.
A busca de Edith Stein pela composição do ser humano se dá por meio da fenomenologia husserliana. A fenomenologia é uma escola filosófica que foi criada por Edmund Husserl, mestre de Edith, na Alemanha, no final do século XIX e início do século XX.
O método com o qual tratarei de solucionar os problemas é o fenomenológico. É dizer, o método que E. Husserl elaborou e empregou pela primeira vez no volume II de suas investigaciones lógicas, mas que, estou convencida, já havia sido empregado pelos grandes filósofos de todas as épocas, se bem não de modo exclusivo nem com uma clara reflexão sobre o próprio modo de proceder. (STEIN, 1998, p. 49)
A palavra “fenomenologia”, na sua etimologia, possui duas partes, que foram originadas do grego. “Fenômeno” significa aquilo que se mostra; esse termo não pode ser entendido somente como aquilo que aparece ou parece. “Logia” provém do termo logos, que para os gregos poderia significar palavra, pensamento ou capacidade de reflexão. Podemos abstrair disso que a fenomenologia é a reflexão que se faz de um fenômeno, ou seja, daquilo que se mostra. Quando alguma coisa se mostra, essa se mostra ao homem, à pessoa humana. O homem é aquele que busca o sentido daquilo que se mostra.
Muitas vezes, numa primeira impressão, pensamos que as coisas que se mostram a nós são sempre coisas físicas, contudo existem as que são abstratas. Um exemplo disso é a palavra “república”; nós a utilizamos para designar uma coisa pública, porém ela não se refere a nada físico.
Acabo de mencionar o princípio mais elementar do método fenomenológico: fixar nossa atenção nas coisas mesmas.Não interrogar a teorias sobre as coisas, deixar fora enquanto seja possível o que se tem ouvido e lido e as composições de lugar que um mesmo se tem feito, para, mais bem, acercar-se das coisas com uma olhada livre de prejuízos e beber da intuição imediata. Se queremos saber que é o homem, temos que pôr-nos do modo mais vivo possível na situação em que experimentamos a existência humana, é dizer, o que dela experimentamos em nós mesmos e em nossos encontros com outros homens. (STEIN, 1998, p. 49).
Esse método fenomenológico de conceber o mundo permite ao ser humano voltar às próprias coisas, e ultrapassar a análise e a explicação científica. A inovação trazida por Husserl nos permite voltar ao mundo anterior ao conhecimento, e do qual o conhecimento fala constantemente. A fenomenologia nos permite irmos diretamente às coisas, indagando a elas mesmas o que dizem de si próprias, resultando em certezas que certamente seriam diferentes de teorias pré-concebidas. Portanto, antes de se fitar alguma coisa, deve-se anteriormente a isso, colocar entre “parênteses” todo “preconceito” que se tenha em relação àquele fenômeno, e depois de observá-lo sem nenhum preconceito, buscar o seu sentido.
As coisas manifestas ao homem só podem ser consideradas fenômenos se elas possuírem sentido. Para encontrarmos o sentido das coisas, precisamos, às vezes, de uma análise mais aprofundada, uma vez que nem tudo pode ser compreendido instantaneamente. Isso consiste em identificar o sentido das coisas, os fenômenos que se mostram a nós.
Para entendermos os fenômenos, devemos trilhar um caminho[1], que para Husserl é formado por dois momentos: a redução eidética (busca pelo sentido dos fenômenos) e a redução transcendental (como o sujeito busca esse sentido).
Nessa busca pelo sentido dos fenômenos, é possível ao homem encontrar e entender o sentido das coisas. O homem precisa saber qual o sentido das coisas em sua vida habitual para que o mesmo possa orientar-se em seus caminhos. Em algumas ocasiões, ele tem a capacidade de identificar instantaneamente o sentido das coisas, todavia, em outras, ele já pode encontrar certas dificuldades. O homem usa sua intuição para a captação do sentido das coisas, e por meio do sentido, a essência das coisas. A intuição é a relação de consciência que nós temos com um objeto. O voltar a essa intuição originária é o passo do verdadeiro conhecimento. Quando um fato se nos apresenta à consciência , com ele captamos uma essência . As essências das coisas estão sempre presentes quando os fenômenos se mostram.
Façamos uma experiência semelhante às que Husserl propõe: alguém bate a mão sobre a mesa, identifico logo que é um som. Todos nós identificamos esse som. Como o fazemos? Imediatamente, intuitivamente. Escutamos qualquer coisa e dizemos “é um som”. Sempre o fazemos assim, se não pudermos fazer, é por algum problema, mas não havendo problema, somos capazes de intuir, isto é, colocar em perspectiva a essência, o sentido da coisa. (BELLO, 2006, p.22-23).
É importante que fique claro que a fenomenologia busca o sentido das coisas e não os aspectos do objeto, como sua existência e os fatos. O fato de existir não é interessante ao método fenomenológico, mas tão somente o seu sentido.
Husserl procura deixar bem claro, em suas Investigações Lógicas, a diferença que tem a fenomenologia da psicologia. Ele explica que a psicologia é a ciência de dados da realidade. Os fenômenos analisados por ela são todos retirados da realidade, onde seus sujeitos vivem no mundo real do espaço e do tempo. A fenomenologia trata da essência das coisas e não de dados da realidade. Esta possibilita apenas a redução eidética (a busca do sentido dos fenômenos), cuja idéia é purificar os fenômenos psicológicos de seus atributos reais para torná-los gerais e essenciais. Portanto, a fenomenologia pode ser entendida como uma corrente filosófica particular que estuda e investiga através da redução fenomenológica.
O método fenomenológico é o caminho pelo qual Edith Stein realizou a sua formação fenomenológica. Sendo assistente de Husserl, ela pôde beber da fonte do criador da fenomenologia.
Podemos entender tudo isso por uma forma bem simples: as coisas físicas ou não físicas se mostram (fenômeno). O homem as percebe e busca os seus sentidos. O método utilizado é o da fenomenologia, o qual deve excluir tudo que não seja o sentido da coisa. Por meio de tudo isso, o homem pode conhecer o sentido das coisas.
No segundo capítulo, trataremos de saber como o homem busca esse sentido das coisas e também quem, de fato, é esse homem.
1.2A influência de Santo Tomás na filosofia Steiniana
Para tomarmos o pensamento de Edith, temos que nos deter um pouco na filosofia tradicional, por meio do pensamento de Santo Tomás de Aquino, de onde Edith parte para iniciar, neste aspecto, o seu trabalho.Essa retomada se faz necessária para que, ao tomarmos o pensamento de Edith, este nos seja mais evidente. Após entendermos o que isso significa, poderemos continuar nosso itinerário.
Espírito especulativo, desde os primeiros tempos de sua conversão, sentiu a atração por Sto. Tomás de Aquino que estudou a fundo, assimilando com seguro intuito os valores perenes, incluindo-os com agudo propósito na trama do método husserliano (...) Esta sua afinidade com Sto. Tomás lhe nasce espontaneamente, por uma simpatia espiritual quase que de almas gêmeas, mais do que por formação de escola. (FABRO apud GARCIA, 1987, p. 42).
Vejamos qual é o pensamento de Santo Tomás diante do ser divino e do ser da criatura:
[... S. Tomás distingue, com mais precisão, o ser das criaturas, separável de sua essência e, portanto, criado, do ser de Deus, idêntico à essência e, portanto, necessário. Esses dois significados do ser não são unívocos, isto é, idênticos, nem equívocos, isto é, simplesmente diferentes; são análogos, ou seja, semelhantes, mas de proporções diversas. Só Deus tem o ser por essência; as criaturas o têm por participação; elas, enquanto são, são semelhantes a Deus, que é o primeiro princípio universal do ser, mas Deus não é semelhante a elas: esta relação é a analogia...] (ABBAGNANO, 1999, p. 56).
Em outras palavras, Santo Tomás deixa notável a distinção entre o ser do criador e o ser da criatura. O ser da criatura depende do ser do criador para existir, ou seja, o criador se faz absolutamente preciso à criatura. O termo “ser” quando se refere à criatura tem um valor, porém quando se refere ao ser de Deus, já possui outro valor. O ser da criatura só pode ser considerado semelhante ao ser de Deus. Deus não recebe de outrem sua existência, pois Deus é existência como substância[2] simples, perfeita e se torna o princípio de outros seres. Assim o homem, ainda na visão de Santo Tomás, é uma substância composta de forma e de matéria, onde corpo e alma são necessários para o ser humano. Se tomarmos um corpo apreendido sem alma ou uma alma apreendida sem corpo não podemos considerá-los como seres – humanos; uma vez que para haver essência, é necessário assimilar duas coisas: a matéria e a forma.
Essa base filosófica de Santo Tomás de Aquino, nós a utilizaremos com mais afinco no terceiro capítulo, onde o homem será observado enquanto imagem de Deus.
[1] No grego: méthodo. Essa palavra é formada de duas partes: “meta”, que significa por meio de; e “odos” que designa estrada.
[2] O termo “Substância”, tanto no aristotelismo como na escolástica, é tido como a realidade que permanece imutável sob os acidentes múltiplos e mutáveis, servindo-lhes de apoio; aquilo que subsiste por si, portando-se independentemente em relação às suas qualificações e estados.
Campanha de cadastramento dos pesquisadores steinianos no Brasil.
Mande um email para: dacruz.moises@gmail.com
OBJETIVO DO GT EDITH STEIN.
Nosso grupo de trabalho tem por objetivo focalizar a questão de uma antropologia filosófica seguindo o olhar fenomenológico diante dos fenômenos. Refletir com a pretensão de abstrair do método aplicado respostas aos problemas existenciais do homem acerca do sentido do ser através de novos comentários, novas descobertas e interpretações sobre o pensamento steiniano.
HISTÓRICO DO GRUPO
O grupo começou em novembro de 2005 na cidade de Quixadá, em 2006 fomos visitados pelo Prof. Dr. Juvenal Savian da UNIFESP, bem como mantivemos contato com a Profª Dra. ir. Jacinta Turolo Garcia, renome do pensamento steiniano no Brasil e exterior.
Em março de 2010 tivemos a alegria de organizar o I Colóquio filosófico steniano no nordeste que contou com a presença da nossa correspondente internacional e de vários pesquisadores do Brasil, o material do simpósio está devidamente sinalizado com o marcador "especial colóquio Edith Stein" .
Em 2011 organizamos o I Simpósio Internacional Edith Stein que contou com a presença da Profª Dra. Angela Ales Bello da Universidade Lateranense de Roma, bem como de 410 participantes vindo de todo Brasil.
Em 2012 realizamos juntamente a Universidade Federal de São João del Rei o II Colóquio Brasileiro de estudos fenomenológicos "Edith Stein e a fenomenologia" como forma de apresentação e introdução do pensamento steiniano .
Desde de o início mantivemos uma produção a qual poderá ser observada no marcador "produção" para nós é mais um passo dado para aquilo ao qual anelamos a criação da Associação Brasileira Steiniana.
Programas de pós-graduação com pesquisa em Edith Stein